O Brasil segue como protagonista no mercado internacional de açúcar, mesmo enfrentando desafios climáticos que impactaram a safra atual. Essa foi a principal conclusão apresentada por Martinho Seiiti Ono, CEO da SCA Brasil; Júlio Adorno, head da Alvean no Brasil; e Arnaldo Corrêa, diretor da Archer Consulting, durante a 9ª edição da série de lives Conexão SCA Brasil, transmitida no último dia 19.
Os especialistas apontaram que, apesar das incertezas climáticas e econômicas, o mercado global ainda depende fortemente do açúcar brasileiro. Esse cenário se intensifica caso as expectativas sobre a produção de outras regiões importantes, como Ásia e União Europeia, não se concretizem.
Os preços do açúcar: panorama e tendências
Arnaldo Corrêa apresentou um levantamento dos últimos 20 anos, considerando os preços de Nova York convertidos em reais por tonelada, com ajuste pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Segundo o estudo, de 2004 a 2024, apenas 10% do mercado esteve acima de R$ 2.956,00 por tonelada, enquanto 90% do tempo os preços ficaram abaixo de R$ 1.609,00 por tonelada. Esses dados ajudam usinas a avaliar momentos ideais para fixação de preços.
No âmbito internacional, os preços do açúcar oscilaram entre US$ 17 e US$ 23 por tonelada em 2024, com projeções de aumento para US$ 19 a US$ 25 por tonelada nas safras 2025/26 e 2026/27. Corrêa acredita que os índices podem subir significativamente, destacando que a cotação atual, de cerca de 18 centavos de dólar por libra-peso, deve sofrer elevações no futuro.
Impactos políticos e oportunidades para o Brasil
Outro ponto abordado durante a live foi a reeleição de Donald Trump nos Estados Unidos e suas possíveis implicações para o mercado global de commodities. Corrêa explicou que a relação simbiótica entre EUA e China dificulta uma guerra comercial prolongada, mas ressaltou que disputas entre os dois países poderiam beneficiar o Brasil em setores como o de grãos.
Caso a China redirecione suas importações de grãos, priorizando fornecedores fora dos EUA, o Brasil tem potencial para aumentar sua participação nesse mercado. O impacto disso no preço do etanol de milho, por exemplo, também foi destacado como um fator estratégico para o país.
Projeções para a moagem de cana-de-açúcar
As condições climáticas adversas e eventos como incêndios afetaram diretamente a produção de cana no Brasil. A temporada 2024/25 deve atingir entre 606 e 608 milhões de toneladas de moagem, segundo dados da SCA Brasil.
O cenário climático atual inclui uma deficiência hídrica significativa, variando entre 400 e 500 milímetros nas regiões produtoras, além de incêndios que destruíram mais de 665 mil hectares de canaviais, sendo São Paulo o estado mais afetado.
Martinho Ono destacou que o índice Tonelada de Cana por Hectare (TCH) sofreu queda significativa, passando de 89,4% em 2023 para 80,1% até outubro de 2024. Apesar disso, há previsão de expansão na área cultivada, que deve atingir 7,725 milhões de hectares, representando um aumento de 3,3% em relação ao ano anterior.
Para o ciclo 2025/26, a estimativa é que o processamento fique entre 565 e 585 milhões de toneladas, devido aos impactos da atual safra. Ono destacou problemas como germinação desigual, menor produtividade por hectare, morte de soqueiras, pragas e doenças. Além disso, o aumento na necessidade de replantio deve reduzir a área disponível para colheita.
A força do Brasil no mercado global de açúcar
Apesar dos desafios, o Brasil deve manter sua relevância no mercado global de açúcar em 2025. A combinação de fatores como a alta demanda internacional e a possível fragilidade da produção em outras regiões fortalece a posição do país como fornecedor estratégico.
Enquanto isso, a busca por soluções para lidar com as adversidades climáticas e melhorar a eficiência produtiva será essencial para garantir a competitividade e sustentabilidade do setor nos próximos anos.