O ano de 2024 trouxe desafios significativos para o mercado global de soja, que enfrentou uma desvalorização expressiva nos preços do grão. Durante o período, o valor da soja caiu cerca de 21%, marcando uma tendência de retração que repercutiu em diversas regiões produtoras e consumidoras. Segundo Rafael Silveira, analista e consultor da Safras & Mercado, o principal fator por trás dessa queda foi o aumento da oferta global, aliado a uma safra brasileira menos impactada por problemas climáticos no ciclo 2023/24.
O Impacto da Oferta Global no Mercado
“Esse cenário contrasta com o ciclo anterior, que havia sido marcado por uma significativa redução da área plantada nos Estados Unidos, o que limitou o potencial produtivo”, explica Silveira. Na safra 2023/24, a produção norte-americana foi estimada em 113,2 milhões de toneladas, uma recuperação modesta que, apesar disso, manteve os estoques finais em cerca de 9,3 milhões de toneladas e restringiu as exportações do país.
Desempenho da América do Sul
Enquanto os Estados Unidos enfrentavam limitações, a América do Sul, com destaque para Brasil e Argentina, teve um desempenho robusto, apesar dos desafios impostos por condições climáticas adversas, como o fenômeno El Niño. No Brasil, a safra atingiu mais de 150 milhões de toneladas, uma das maiores colheitas já registradas, embora abaixo do potencial máximo de 165 milhões de toneladas esperado em condições ideais.
A Argentina, por sua vez, mostrou uma recuperação notável após uma quebra histórica na safra anterior. Com uma produção estimada em 50 milhões de toneladas, o país não apenas retomou sua relevância como exportador, mas também reforçou sua posição como um dos principais fornecedores de farelo de soja no mercado global.
Exportações e Ajustes nos Preços
Apesar da colheita recorde, o Brasil registrou uma redução nas exportações de soja em 2024, com volumes estimados em 98 milhões de toneladas, inferior ao ano anterior. A abundância de oferta global e as pressões sobre os preços foram fatores determinantes para essa queda. Além disso, questões como variações cambiais e custos logísticos também influenciaram as dinâmicas do mercado.
A situação começou a se reverter no final do terceiro trimestre, quando a menor disponibilidade de soja, tanto no Brasil quanto em outras regiões produtoras, passou a sustentar os preços. Segundo Silveira, a elevação do basis no Centro-Oeste brasileiro é um exemplo desse ajuste, refletindo a dinâmica entre compradores e vendedores que buscaram equilibrar suas expectativas.
O Papel da Indústria de Esmagamento
O segmento de esmagamento de soja no Brasil enfrentou desafios significativos em 2024, especialmente para garantir suprimentos adequados. Isso pressionou os preços do óleo de soja, que registraram altas expressivas no mercado. Esse contexto destacou a importância de uma gestão eficiente da oferta e demanda ao longo da cadeia produtiva.
Competitividade Brasileira e Perspectivas
Durante o primeiro semestre, as exportações brasileiras foram intensas, com o Brasil consolidando sua posição como um dos principais fornecedores para a China, maior comprador de soja do país. Contudo, o ritmo das exportações diminuiu no segundo semestre, devido à menor disponibilidade interna e ao aumento da competição com a produção argentina.
O mercado global de soja em 2024 refletiu uma combinação de fatores que moldaram sua dinâmica: desde a oferta elevada até as flutuações de preço causadas por demandas regionais. Apesar das adversidades, o setor continua se adaptando e se fortalecendo, mirando novas oportunidades e consolidando a relevância do Brasil no cenário internacional.
