O Aumento do Preço do Café e o Surgimento do “Café Fake”

O preço do café torrado e moído disparou nos últimos 12 meses, registrando um aumento de 39,6% para o consumidor, conforme dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Com isso, o produto encerrou 2024 custando, em média, R$ 48,90 por quilo. No início de fevereiro de 2025, esse valor já ultrapassa a marca dos R$ 50, tornando o tradicional cafezinho um item cada vez mais caro para os brasileiros.

Essa alta pode impactar diretamente o consumo da bebida, levando consumidores a buscar alternativas mais acessíveis. Como já ocorreu com outros produtos, como o leite condensado, que deu lugar à “mistura láctea”, surgiram no mercado opções similares ao café, identificadas com a expressão “sabor café” nas embalagens. É nesse cenário que nasceu o chamado “café fake”, ou “cafake”, uma versão alternativa do café tradicional que vem gerando polêmica no setor.

O Que é o “Cafake”?

O chamado “cafake” não é feito a partir da semente do café, que é o principal componente do pó tradicional. Em vez disso, sua composição inclui cascas, folhas, palha e até pedaços de galhos da planta do café, misturados com aromatizantes para simular o sabor característico da bebida. Essa prática tem sido alvo de críticas de especialistas e entidades do setor, como a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), que alerta sobre possíveis prejuízos ao consumidor.

O presidente da Abic, Celírio Inácio da Silva, classificou o produto como uma tentativa evidente de confundir o consumidor. A entidade recebeu denúncias e identificou a venda do “cafake” na cidade de Bauru, no interior de São Paulo. Um dos produtos encontrados foi o “Oficial do Brasil”, cuja embalagem traz a descrição “bebida sabor café tradicional”, levando a questionamentos sobre sua transparência na comunicação com o público.

O Risco de Confusão para o Consumidor

Apesar da indicação na embalagem de que o produto não é o café torrado e moído tradicional, a semelhança com os pacotes convencionais e o preço mais baixo podem induzir o consumidor ao erro. Na internet, é possível encontrar pacotes de 500g do produto entre R$ 12 e R$ 14, enquanto o café tradicional custa cerca de R$ 30 pelo mesmo peso.

A Abic teme que a disseminação desse tipo de produto possa afetar a credibilidade do setor cafeeiro e desestimular o consumo do verdadeiro café. Em resposta, a associação encaminhou denúncias ao Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) e à Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), alegando preocupação com a segurança alimentar e os impactos no mercado.

O Posicionamento da Fabricante

A empresa responsável pelo produto “Oficial do Brasil”, a Master Blends, com sede em Salto de Pirapora (SP), afirma que está oferecendo um subproduto derivado do café e que deixa essa informação clara na embalagem. Em nota enviada à agência Reuters, a companhia destacou que a formulação do produto inclui café e polpa de café torrado e moído, e que o rótulo informa corretamente se tratar de uma “bebida à base de café”.

A Master Blends também citou exemplos de outros produtos que passaram por mudanças semelhantes no mercado, como a substituição do leite condensado por misturas lácteas e a adoção de coberturas sabor chocolate em vez de chocolate puro. A empresa reforçou que possui autorização para comercializar o produto e que não pretende enganar os consumidores.

O Debate Sobre a Qualidade do Café Brasileiro

A comercialização do “cafake” levanta preocupações sobre a reputação do café brasileiro, que vem investindo na diferenciação e na valorização da pureza do produto. No passado, a Abic criou um selo de pureza para garantir que o café moído não fosse adulterado com misturas de milho torrado e outras substâncias estranhas.

O presidente da Abic alerta que a proliferação desses produtos pode prejudicar a imagem da bebida e afetar o consumo. “Se não combatermos isso, as pessoas podem experimentar esse ‘café’, não gostar e acabar reduzindo o consumo da bebida genuína”, afirmou Silva.

O Futuro do Mercado de Café

Diante do cenário atual, fica evidente a necessidade de maior fiscalização e transparência para garantir que o consumidor tenha clareza sobre o que está comprando. O aumento nos preços do café levanta desafios para a indústria e para os consumidores, mas a solução não deve comprometer a qualidade e a tradição de um dos produtos mais emblemáticos da cultura brasileira.

A recomendação para os consumidores é sempre ler atentamente os rótulos dos produtos e, na dúvida, optar por marcas que possuem certificação e selos de qualidade. A Abic segue acompanhando o caso e pressionando as autoridades para evitar que o café brasileiro perca sua identidade e reconhecimento no mercado nacional e internacional.

Related Posts

  • All Post
  • Agricultura
  • Agronegócio
  • Aquicultura
  • Aves
  • Aves e Suínos
  • Avicultura
  • Bioenergia
  • Cafeicultura
  • Capacitação
  • Caprinos
  • Certificação
  • Clima
  • Combustíveis
  • Cultivo
  • Economia
  • Empreendedorismo
  • Evento
  • Frangos e suínos
  • IBGE
  • Importação
  • Indicadores
  • Inovação
  • Internacional
  • Leite
  • Logistica
  • Meio Ambiente
  • Meliponicultura
  • Mercado Exterior
  • Nacional
  • Oportunidade
  • Ovinos
  • Pecuária
  • Peixes
  • Politica
  • Produtor Rural
  • Segurança
  • Seguros Rurais
  • Silvicultura
  • Soja
  • Suinocultura
  • Suinos
  • Suprimentos
  • Sustentabilidade
  • Tecnologia
  • Tempo
  • Uncategorized

Leave a Reply

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

COTAÇÃO DE MOEDAS

CLIMA

Posts Populares

Trending Posts

Nosso Instagram

Categorias

Tags

Edit Template

© 2024 Safra Diária – Todos os Direitos Reservados

Categories

Tags