A recente divulgação do levantamento da safra 2024/25 pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) trouxe à tona uma polêmica significativa entre os produtores de arroz do Rio Grande do Sul. Segundo a Conab, a área destinada ao cultivo do cereal no estado deverá totalizar 988 mil hectares, representando um aumento de 6,4% em relação aos 927,8 mil hectares estimados pelo Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga).
Essa discrepância levou a Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e a Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) a emitirem uma nota conjunta, expressando preocupação com o que consideram ser uma “nova rodada de desinformação” por parte da Conab em relação aos dados de produção e produtividade.
Divergências de Estimativas
De acordo com as entidades, os números divulgados pela Conab são superestimados e podem ter impactos significativos no mercado de arroz. A projeção da Conab aponta para uma produção de 8,255,2 milhões de toneladas no Rio Grande do Sul e 11,985,8 milhões em todo o Brasil. Entretanto, o Irga estima um crescimento menor na área plantada, de apenas 2,69%, o que resultaria em 927,8 mil hectares efetivamente semeados.
Alexandre Velho, presidente da Federarroz, destaca que a diferença de 60 mil hectares entre as estimativas da Conab e do Irga equivale a uma discrepância de 500 mil toneladas no volume de arroz colhido. Segundo ele, a Conab desconsiderou ajustes realizados pelo Irga, que cortou 20 mil hectares da intenção de plantio devido a problemas enfrentados pelos produtores, especialmente na região central do estado.
“A Conab está utilizando o arroz de maneira política, na tentativa de baixar os preços do cereal. Essa postura populista pode trazer prejuízos significativos para o setor”, afirma Velho.
Impactos no Mercado e Nos Preços
A nota conjunta da Federarroz e da Farsul também criticou a postura do governo em relação ao mercado de arroz. As entidades afirmam que, em 2024, o governo desperdiçou R$ 7,2 bilhões na compra de arroz importado, que foi vendido a preços tabelados e abaixo do custo de produção, gerando pânico entre consumidores e produtores.
“Alertamos, na época, que não haveria falta de arroz no mercado interno, e isso foi confirmado. Nenhum supermercado no Brasil enfrentou desabastecimento”, reforça o comunicado.
Apesar das divergências, as entidades tranquilizam a população ao garantir que a produção será suficiente para atender à demanda interna, além de gerar excedentes para exportação.
A Resposta da Conab
Em resposta às críticas, a Conab emitiu uma nota destacando seu compromisso com a transparência e precisão nos levantamentos agrícolas. A Companhia afirma que seus relatórios são elaborados com base em métodos consistentes e contribuem para a formulação de políticas públicas e o monitoramento da produção no Brasil.
“Os dados da Conab refletem a expectativa de produção no mês anterior à publicação do relatório e são atualizados regularmente. A semeadura do arroz no Rio Grande do Sul foi finalizada na segunda semana de janeiro, e novos levantamentos de campo serão realizados para a publicação de dados revisados em fevereiro”, explica o órgão.
A Conab também ressaltou as parcerias firmadas com instituições como o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), que utiliza imagens de satélite para mapear as áreas cultivadas no estado. Essa colaboração visa aprimorar a precisão dos dados e reduzir incertezas sobre o tamanho da área plantada.
Considerações Finais
A controvérsia entre a Conab e as entidades que representam os produtores de arroz do Rio Grande do Sul evidencia a importância de dados confiáveis para o setor agrícola. Divergências nas estimativas podem impactar diretamente os preços do cereal e a percepção do mercado, gerando incertezas que afetam produtores, indústrias e consumidores.
Enquanto a Conab reafirma seu compromisso com a qualidade e a precisão de suas informações, a Federarroz e a Farsul defendem a utilização de dados locais, como os do Irga, para garantir maior aderência à realidade do campo. O desafio agora é alinhar essas estimativas e assegurar que o planejamento do setor seja baseado em informações transparentes e consistentes, promovendo um equilíbrio entre oferta, demanda e preços justos no mercado de arroz brasileiro.